quarta-feira, 25 de abril de 2012

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ÊXTASE 1 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS

II -  ÊXTASE

1.

-      Água, Alonso, água.  Ao fundo, entretida nas perfurações, aspirada celeste em um éter fresco de respingos e partículas de prata.
-      Em qualquer nave, de ar ou de fogo ou de líquido, a vibração que eleva é o pedaço do céu.
-      O deus é tão moroso, esquecido, esvaecido nas portas da iluminação. Desconhece as medidas do tempo lento no esforço da colheita. É ser de braços alongados navegados na criação – sorriu Margri.
-      Sem espaço e contagem de tempo. A eternidade desliza, alçado a ela o homem é livre de si mesmo. Fresco e sereno no cume, radiante e airoso no templo de ouro.
-      Somos partículas afeitas aos gases nobres.
-      Liberdade...
-      Suave, suave. A liberdade é suave, azul e ouro, branca antes do amanhecer, violeta e rósea ao Sol poente.
-      Libertar-se, ser tão formoso e humilde como as aves.
-      Pousar no mar nas manhãs de grandes festas, quando o Sol sorri, esquecido de suas tempestades, da lua vermelha.
-      Meditar ao longo do anjo, entre suas frestas e nuvens, ciente de que o solo aquecido não se desfaz antes do beijo.
-      Amar, rodear-se de luz e sombra, preguiça na clareira, ao lado de uvas rosadas e efebos de olhos fundos, ao norte os anjos dedilhando a harpa.
-      Fundir-se na fusão do infinito, entregue ao solfejo da orquestra, renascido em nova prece.
-      Enfim, viver desfeita, quase esquecida, os passos lentos e incertos desamarrados da túnica, fremente do silêncio.
-      Seguir-se a o vento da ave, perseguindo o rio. Trazer presas às fímbrias das vestes as infindáveis travessuras da natureza.
-      Nenhum homem ,com suas leis, conseguiu pouco mais do que homenagear a tenda armada ao pé da criação.
-      Nenhuma voz conseguiu imitar o coro dos anjos. Supuseram-se alguns moldes, mas não levantavam as mesmas asas.
-      Parecer-se aos poucos é a ciência de não saber.
-      Aonde?
-      Sem pressa.
-      E por que?
-      Viu a nave?
-      Era festa.
-      O dia não se conhecia.
-      Não sabe de si a inteligência que se move, valente, no contorno do mistério.
-      Metrifica-se, apenas, o decorrido
-      que em algumas leis se prontificou
-      mas, vaza de todos os poros a grande leveza de viver.

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