A DANÇA DOS ARCOS
II - ÊXTASE
1.
- Água, Alonso, água. Ao fundo, entretida nas perfurações, aspirada celeste em um éter fresco de respingos e partículas de prata.
- Em qualquer nave, de ar ou de fogo ou de líquido, a vibração que eleva é o pedaço do céu.
- O deus é tão moroso, esquecido, esvaecido nas portas da iluminação. Desconhece as medidas do tempo lento no esforço da colheita. É ser de braços alongados navegados na criação – sorriu Margri.
- Sem espaço e contagem de tempo. A eternidade desliza, alçado a ela o homem é livre de si mesmo. Fresco e sereno no cume, radiante e airoso no templo de ouro.
- Somos partículas afeitas aos gases nobres.
- Liberdade...
- Suave, suave. A liberdade é suave, azul e ouro, branca antes do amanhecer, violeta e rósea ao Sol poente.
- Libertar-se, ser tão formoso e humilde como as aves.
- Pousar no mar nas manhãs de grandes festas, quando o Sol sorri, esquecido de suas tempestades, da lua vermelha.
- Meditar ao longo do anjo, entre suas frestas e nuvens, ciente de que o solo aquecido não se desfaz antes do beijo.
- Amar, rodear-se de luz e sombra, preguiça na clareira, ao lado de uvas rosadas e efebos de olhos fundos, ao norte os anjos dedilhando a harpa.
- Fundir-se na fusão do infinito, entregue ao solfejo da orquestra, renascido em nova prece.
- Enfim, viver desfeita, quase esquecida, os passos lentos e incertos desamarrados da túnica, fremente do silêncio.
- Seguir-se a o vento da ave, perseguindo o rio. Trazer presas às fímbrias das vestes as infindáveis travessuras da natureza.
- Nenhum homem ,com suas leis, conseguiu pouco mais do que homenagear a tenda armada ao pé da criação.
- Nenhuma voz conseguiu imitar o coro dos anjos. Supuseram-se alguns moldes, mas não levantavam as mesmas asas.
- Parecer-se aos poucos é a ciência de não saber.
- Aonde?
- Sem pressa.
- E por que?
- Viu a nave?
- Era festa.
- O dia não se conhecia.
- Não sabe de si a inteligência que se move, valente, no contorno do mistério.
- Metrifica-se, apenas, o decorrido
- que em algumas leis se prontificou
- mas, vaza de todos os poros a grande leveza de viver.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário