para que me serve a luz se me cega - José Felix
[in: herberto helder – voz sem ouvido]
[in: herberto helder – voz sem ouvido]
não te deites no lirismo
ainda que um magma lhe sirva de lençol
disso não passa – um catre!
não te enganes com o aconchego
berço é também chamado o gradeamento de ferro à volta da sepultura
e os turbilhões debaixo dos travesseiros não se precipitam
nenhum enigma inspira fronteiras – isso é mito!
para que decifrá-los?
se a sede sacraliza as raízes úmidas, a fome é a nutrição do poeta
deixa que a verve ecloda pelo teu corpo – vive!
sai do papel, desobriga-te do que te agrilhoa
a escuridão e a luz cegam como qualquer permanência
o âmago do verbo tem acesso vedado ao pensamento
inexistem chaves para abrir portas sem cães de guarda
não pensa nas ações: faz - és livre!
mune a ti de calor, convoca quem te aprouver
[a arte regenera] deixa o catre, os mitos
emerge
e liberto vive.
sonia regina
Imagem: autor ignorado
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