sábado, 21 de abril de 2012

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magma - sonia regina

para que me serve a luz se me cega - José Felix
[in: herberto helder – voz sem ouvido]


não te deites no lirismo
ainda que um magma lhe sirva de lençol
disso não passa – um catre!

não te enganes com o aconchego
berço é também chamado o gradeamento de ferro à volta da sepultura
e os turbilhões debaixo dos travesseiros não se precipitam

nenhum enigma inspira fronteiras – isso é mito!
para que decifrá-los?
se a sede sacraliza as raízes úmidas, a fome é a nutrição do poeta

deixa que a verve ecloda pelo teu corpo – vive!
sai do papel, desobriga-te do que te agrilhoa
a escuridão e a luz cegam como qualquer permanência

o âmago do verbo tem acesso vedado ao pensamento
inexistem chaves para abrir portas sem cães de guarda
não pensa nas ações:  faz - és livre!

mune a ti de calor, convoca quem te aprouver
[a arte regenera] deixa o catre, os mitos
emerge

e liberto vive.


sonia regina

Imagem: autor ignorado



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