domingo, 29 de abril de 2012

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A Volta





A pequena cidade do interior me recebeu em silêncio. A velha praça da minha juventude mal enxergou os dez anos de ausência que eu trazia na mala. Nem mesmo os sinos da igreja ouviram os meus passos atravessando a luz da manhã.


Em casa, nenhuma surpresa: a mesa posta para três, a mãe passando o café, o pai distante em seu jornal interminável. No meu quarto, os livros ainda na mesma ordem, as minhas fotos de formatura desafiando a poeira, a cama recebendo o sol sem perguntas.


No único bar da cidade, a minha mesa intacta, o garçom antigo que me serve a mesma cerveja magra de antes. Do lado de fora, a tarde que cresce nas pedras da rua, indiferente à minha presença.


À noite, na solidão de um ônibus, a esperança de que alguém na cidade grande perceba a minha volta.

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