quarta-feira, 2 de maio de 2012

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ÊXTASE 2 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS

ÊXTASE 

2.

      Definira-se o abstrato do céu. Apolo devotar-se-ia ao jardim do éden e, em compasso com a Águia, regaria o regar dos campos dos homens de bem.
     Que se enfileirassem as máscaras para o baile do deus. Sereno e despregado do centro fecharia o cordão de ouro para os eleitos do cálice. Os perfumes iniciar-se-iam em terra, ao contorno das árvores frondosas, que batidas em chão e água, ofereciam as copas para o pouso da ave.
     Fugidos das trincheiras, os fulgores componentes das partículas vivas, sempre amassadas das brincadeiras da Nascente, conduziriam o Carro do Sol. Não se estimaria outra honra do que o prazer renascido em vácuo e vertigem, despido de armações, sem intenções, apenas munido de suas fronhas fractais armadas nos limites da criação.
     Seria ímpio o renascer da vida. Quase incoerente de sua valia acabaria por se reconhecer enviada ao solo em conjunção da estrela.
     Desconhecer-se-iam as formas. Formadas fortuitas ao encanto da passagem seriam breves e cientes, valentes, prontas e prestas para ressurgirem, plácidas, a cada alvorecer.
    Não se discutiria o prazo e o proveito. A cada dia enviar-se-ia, sem percalço, vazada viagem na areia branca namorada das águas mornas, crespas e onduladas, ampliadas.
     Aturdido do sonho, erguer-se-ia o deus. Não se distinguiria de nenhuma outra forma, porque beberia em cada hóstia o líquido puro de seu primeiro acorde.
     A poesia desataviaria de sua sombra e, lançada no arco da grande luz, sentar-se-ia com os pássaros, com o horizonte, com o alegre gralhar de todo aquele que se motivou ao ponto, deslizou ao longo do lastro, esquecido de parir-se mais do que o proveito, pois enfim, era certo, era justo, que  formou-se a consciência do meio não como seu cutelo, mas em segredo, fornida das fadas, ao Oriente, no levantar da Orquestra.

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