O ANJO
2.
- Esse o
portal de ouro e luz no azul infinito, demolida a invalidez, a imagem
despregada de seu fundo. Acredito que assim principia a alma do corpo.
O efebo, esguio como aço, perfil delicado
na arrogante autoridade, insinuou uma covinha.
- És belo
e talvez insolente, Ângelo.
- .....
então, Ângelo! E como pensa em se chamar?
- Já não
sou mais a varrida das águas...
-
Terminou o deserto. Também você está
despregada do Corpo Matriz.
- Solidão
saída de nuvens e nubentes.
- Te
chamarei Ariane. Um novo batismo, um outro enfeite.
-
Ariane...
- E será endurecido o teu perfil, em vidrilhos
os azuis que se empurram dos olhos, já vítreos de tanta transparência das
vestes verdes de sucessivos mestres.
- Também
deitarei uns acordes para o contorcionismo de tua face.
- Que
seja.
- Qual de
nós dois será o outro?
- Seremos
um.
- Não há
o descanso...
- Sim,
envoltos de tanto líquido, estaremos secos, nus, levitados e emancipados das
hostes do desejo.
-
Compreendo. Uma loura e ímpia lucidez, cuspida e amparada na boa luz.
-
Nutriente e nubente, camadas ao redor de si.
- Te
desenharei um barco e te deixarei soprar as velas.
- Pois
marinheiro de asas agudas é o que sou. O servo daquela que se despediu do
ventre e que por ele se levantou.
- Ariane,
de ágeis mandíbulas, voraz de verdade e liberdade, a que aceita a abstração
tranqüila da ausência de si.
- Ariane,
marítima de verbo.
Curvaram-se as palmas espalmadas como
troféus no carinho córrego corrigido. Estariam entre a beira e o desejo, voraz,
do Astro.
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