terça-feira, 1 de maio de 2012

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O MOSTRENGO DO BAR - Poema de Adelina Velho da Palma


O MOSTRENGO DO BAR


(inspirado no poema “O mostrengo” de Fernando Pessoa)                         


O mostrengo que está no fim do bar
Do canto de breu ergueu-se a cambalear
À roda da mesa rodou três vezes
Três vezes rodou a espumar
E disse: “Quem é que ousou tragar
As bebidas que eu encomendo
Para a minha goela sem fundo?”
E o homem ao balcão disse rangendo:
“Espere só mais um segundo!”

“Quem é que me põe neste alvoroço
Como é que emborco o meu almoço?”
Disse o mostrengo e rodou três vezes
Três vezes rodou sujo e ensosso,
“Quem vem beber onde eu me engrosso
Para que o álcool se desperdice
E eu me enferme moribundo?”
E o homem ao balcão rangeu e disse:
“ Espere só mais um segundo!”

Três vezes à garrafa as mãos prendeu
Três vezes da garrafa as desprendeu
E disse ao fim de ranger três vezes:
“Aqui ao balcão sou mais do que eu
Sou um cliente que quer o bar que é teu;
E mais que o mostrengo que a botelha espreme
E derrama um hálito nauseabundo
Mandam os fãs dos bolos com creme
Que consomem e zarpam num segundo!”


Adelina Velho da Palma

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