sexta-feira, 13 de julho de 2012

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flagrante de um chapéu


Vi ontem o chapéu no chão,
Que o vento o derrubara.
Não imagino quem seja
O dono, nem perguntara.

Prefiro inventar histórias
De onde possa ter saído.
Participado de glórias,
Histórias tristes vivido?

Trancafiado na caixa
Antes que alguém o tirasse,
Fibras de mole tecido,
Em que cabeça pousaste?

Terás ido a uma festa,
Ou de alguém que não o quis,
Sombra à cabeça do asceta
Ou de um qualquer infeliz?

Acenou para a mulher,
Que não o viu por um triz,
Ou foste apanhado no abraço
Caliente da meretriz?

De onde vens?
Pra onde vais?
Rodopiando no mundo
Qual navio em muitos cais.

Terá o chapéu o destino
Daqueles que o carregam
Perdidos, sem rumo e tino
Que à sorte pura se entregam?

Ou ele é que trilha e marca
A sorte dos que são donos,
Como só quem pune a mágoa
De uma vida de abandono?

Eu já não posso saber.
Apenas o vi ao vento,
Tangido sem pretender,
Ser eterno o seu momento
Antes de ir se perder.

1 Comentário

andre albuquerque

Amplo,as possibilidades da vida e do vasto mundo, tal uma ventania.Parabéns.