terça-feira, 3 de julho de 2012

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o mar foi o culpado.

"gostava mais de você quando não me amavas", começou assim o discurso meio rouco, baixo e fétido devido aos cigarros fumados previamente. "e eu lhe odiava quando fingia", respondi secamente com uma ou duas pedras em minhas mãos. então ela passou a mirar o chão e assoprar a fumaça do cigarro fedido -acho que era cravo- na mesma direção. era toda feita de fingimentos e princípios que de tão particulares perdiam-se entre goles, poses e escarros.
"somente as ternuras". o que? "somente as ternuras eram fingidas. os toques eram feitos de uma última colher de sinceridade que possuía antes de oferecer ao mar". pronto. agora também odiava o mar por levar de mim a última lucidez que eu ainda possuía dela. 
"até logo". e se despediu com a mesma facilidade de sempre. era um desapego absurdo. não sabia ser de ninguém. até por um instante de nossas vidas eu sabia admirar essa liberdade. entretanto com o tempo passei a sentir um compadecimento. ser desgarrado do mundo não é de todo ruim, mas faz acumular no meio do peito despedidas não lamentadas. angústias não sofridas. 
gostava mais de você quando não me levava preciosidades. disse meio baixo e rouco ao mar. "e eu lhe amava quando sabias compreender solidões", responderam-me algumas ondas.

1 Comentário

Jorge Xerxes

Thabata,

Belíssimo e Inspirado!

"...os toques eram feitos de uma última colher de sinceridade..."

"ser desgarrado do mundo... faz acumular no meio do peito despedidas não lamentadas."

Um Beijo! Jorge