domingo, 5 de agosto de 2012

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Interpretações do Oráculo

Às vésperas de uma grande batalha, um comandante de cem mil homens resolveu consultar um oráculo. Nunca antes o fizera em sua vida, e mal sabia o que o levava a fazê-lo. Na verdade, considerava que homens que se orientavam através de oráculos ou outro tipo de adivinhação não passavam de seres fracos e despreparados para a luta. Consultaria o oráculo, pensava ele, apenas para matar o tempo.
Pensando desta maneira, o comandante, incrédulo, colocou-se à frente do oráculo.  Mesmo antes que fizesse a pergunta, recebeu a resposta, clara e inquestionável: grande triunfo na batalha, exército inimigo dizimado, comandante coberto de homenagens.
Indignado, o comandante deu as costas ao oráculo e foi juntar-se aos seus homens. Não compreendia como era possível receber uma resposta sem nem ao menos ter feito a pergunta. Isso, pensava, era a prova evidente de que tudo não passava de um embuste. No dia da batalha, porém, tudo correu conforme a previsão, e o comandante, mesmo atribuindo a vitória ao seu poder de estratégia, convenceu-se da eficácia das consultas ao oráculo.
***
Anos mais tarde, outra vez em conflito com um país inimigo, o comandante tornou a visitar o oráculo.  Expôs a sua preocupação com a superioridade numérica do outro exército e perguntou se seria novamente bem sucedido. O oráculo não se pronunciou de imediato, e o comandante, apressado e ansioso, não esperou pela resposta e partiu, interpretando o enigmático silêncio como um bom sinal.
Às suas costas, atrasado, o oráculo enfim respondeu: catástrofe iminente, exército inimigo mais preparado, comandante abandonado em vala comum.

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