domingo, 5 de agosto de 2012

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Pequenas histórias 9















Segunda feira iluminada


 Segunda feira iluminada no embalo do feriado de sexta-feira. Sorrisos se abrem na oportunidade de passar três dias sem fazer nada, isto é, sem ter que levantar cedo, pegar condução e se aprisionar na obrigação de sobreviver. Grande porcaria. Pensamento retrógrado deveria causar encefaleia. Viver em duplicidade, se é que posso chamar dessa maneira, é perigoso.
 - Puta merda, estou atrasado. Tenho que entregar esse apontamento hoje para o chefe. Ah! Mas que vá a merda, sexta está aí, feriado, vou pegar uma praia com a mina e nem quero pensar em serviço. O chefe está me chamando.
 E o funcionário exemplar, com presteza, vai atender as obrigações com a promessa sexual do feriadão entre as pernas presas pela cueca Calvin Klein. E no centésimo qüinquagésimo segundo andar ouve o chefe discorrer sobre o trabalho, enquanto seus olhos famintos de liberdade descortinam por trás do chefe, o azul enfeitado pelo sol banhando os prédios, aumentando a ansiedade do feriadão.
 - Ouviu o que eu disse? – pergunta o chefe vendo o olhar distanciado do funcionário.
 - Ouvi, sim, chefe. Pode ficar sossegado, quinta antes do expediente estará na sua mesa, pode contar.
 - Quero ver mesmo. Pois não quero trabalhar no feriado.
 - No feriado, chefe! Trabalhar na sexta é ruim, hein chefe.
 - Então trate de fazer logo o serviço.
 Saí da sala do chefe com mais uma preocupação: corre o risco de trabalhar no feriado. Mas como bom funcionário vai desempenhar o papel com dignidade para entregar em tempo o serviço. Senta a sua mesa. Começa a sentir uma dor finíssima lá no fundo do estômago. Olha o calendário onde está preso o retrato da namora. Ainda faltam três dias... Caramba! A dor aumenta. Deve ser fome, pensa nada como uma bolacha e um chazinho. E assim, pela não sei quantas vezes, toma seu chazinho com bolacha para sanar a dor de estômago. Assim ele passa a segunda feira vivendo antecipadamente ao invés de se concentrar em um problema de cada vez. 
E sem perceber, está cultivando uma úlcera como brinde por sua ansiedade.


 pastorelli

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