terça-feira, 18 de setembro de 2012

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Pequenas histórias 18

                                                              Uns tempos atrás

Uns tempos atrás, um cara lançou um livro que, por sinal, fez um sucesso até que considerável, foi até no Jô, coisa que com isso pudesse ser considerado um bom escritor, não claro que não. O livro é recheado de pequenos textos falando sobre as palhaçadas que o autor enfrentou na vida, grande coisa, digo eu. Pois, todos nós passamos por palhaçadas das mais estranhas a mais escalafobética possível. Só que a maioria não tem cara de pau para falar sobre si mesmo, mais ainda escrever um livro, quanto mais sobre suas idiotices. Foi o que esse escritor fez, escreveu sobre suas idiotices e, por incrível que parece, fez um sucesso relativo. O livro, o primeiro volume, até que foi bem vendido, já o segundo volume não vendeu tanto, mas teve uma considerável venda para um país que não lê e, pelo que fui informado, ele já tem o terceiro volume publicado. Vá ter idiotices para escrever assim lá não sei aonde.
Para ser sincero, li uns dois capítulos do primeiro volume e não me senti atraído para ler o livro todo. Achei meio chocho as histórias, não vi graça nenhuma, pareciam forjadas, escritas para serem engraçadas, numa linguagem despojada, sem características de literatura, não que isso fosse o essencial, mas para quem procura uma leitura razoável é essencial. Não precisa ser uma sumidade, mas pelo menos ter um atrativo para que o leitor continuasse a leitura. Isso ele conseguiu entre os que gostam de leituras rápidas, sem precisar queimar os neurônios. O autor de Ria Da Minha Vida Antes Que Eu Ria Da Sua podia, pelo menos, ser mais apurado com sua escrita.
Há escritores sérios que escrevem sobre si mesmo com mais elegância, vamos dizer, do que ele. É só ler as crônicas de Mário Prata, Rubem Braga, Fernando Veríssimo e outros. Talvez seja esse o propósito dele, escrever apenas e quanto mais leitores angariar melhor, numa leitura fácil e rápida enriquecendo seu bolso, se é que isso é possível.
Agora porque estou falando disso tudo? É que percebi que falando sobre si mesmo, sobre suas mazelas se consegue certo sucesso, se consegue sair do anonimato, mesmo que seja por dois ou três meses. Muitos escritores conseguiram alcançar o pico do sucesso falando sobre ele mesmo. Então devo escrever sobre mim? Não sei, quem sabe? E depois que li sobre o autor de Snoop, o criador do Charles Brow, o menino mais azarado das histórias em quadrinhos, passo acreditar que seja verdadeiro. O criador de Snoop e sua turma era um cara mais sem graça, sempre se dando mal na vida, mau desenhista, mas persistente, cria o Charles Brow que é sua cara e suas desventuras e faz o maior sucesso. Portanto, deverei escrever sobre mim mesmo contando minhas desventuras?
Bom, em parte venho fazendo isso, em pequenos textos falo sobre mim. Tirando a Dama do Metrô, que teve certo sucesso entre meus leitores; tirando A Cadeira de Espaldar Alto, que poucos gostaram; e numa experiência de falar sobre mim mesmo sarcasticamente, até procurando criar humor, O Diário Do Imbecil não teve muita aceitação; venho escrevendo sobre minhas idiotices. Talvez tenha que ser mais explicito, mais cara de pau, provocar mais despojamento no que escrevo. Não sei. Estou pensando nisso. Vamos ver no futuro. Uma única coisa eu sei: não vou parar de escrever. Até que esses dedos não sejam imobilizados e minha mente esteja sempre em efervescência, vou escrever.


 Pastorelli


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