sexta-feira, 26 de outubro de 2012

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Clown time, A hora do palhaço


   As arquibancadas estavam lotadas.  Especialmente pelas crianças, que se agitavam, olhos brilhantes e sorrisos de expectativas. Estavam acompanhadas dos pais, irmãos e coleguinhas de escola. Algumas seguravam balões coloridos, outras pacotes de pipoca, que comiam avidamente, com os olhos fixos no picadeiro. E pouco importava se parte da grande lona do circo estava remendada e com goteiras em alguns pontos. Eles estavam ali para assistir o palhaço, com sua roupa espalhafatosa e desajeitada, sua maquiagem engraçada e suas tiradas ingênuas.
   Mas não eram só os pequenos que se encantavam com as palhaçadas desse artista de tradição milenar. Os adultos, também! Eles voltavam à infância, ao tempo em que andavam descalços pelas ruas e jogavam ‘pelada’ no campinho do bairro... “Bons tempos, aqueles!”, pensavam, num instante de nostalgia... As obrigações do dia a dia de gente grande os levou para caminhos nem sempre coloridos, cinzentos, muitas vezes...
   José olha para o filho João e reconhece nele mesmo brilho no olhar de quando era moleque, quando e o circo chegava na cidade. Na época, era um verdadeiro acontecimento! Hoje, em muitos momentos, a vida lhe pareceu um circo de horrores... Mas também lembrou de uma frase do ator brasileiro especializado na arte de fazer sorrir, Nico Serrano, de que ‎"a alegria de palhaço não é ver o circo pegar fogo. É ver a alegria incendiar o picadeiro”... Pura verdade!
   A música começa a tocar e o espetáculo está prestes a iniciar. “Respeitável público! Senhores, senhoras, senhoritas, gente pequena e gente grande! Temos a honra de apresentar o palhaço ‘Tagarela’, o maior mímico do Brasil! Palmas para ele!”... A criançada entra em delírio. Todas as atenções se voltam para o Tagarela, que fala pelas mãos, expressões do rosto e pelos movimentos do corpo. As palhaçadas e trapalhadas do Tagarela arrancam gargalhadas da plateia, que se torce de tanto rir. Sucesso absoluto!
   A apresentação do palhaço chega ao fim e o público o aplaude de pé. Ele se despede, sem dar as costas para a plateia e se recolhe ao fundo do palco. Agora Tagarela está no camarim, senta em frente ao espelho e olha para si mesmo. Tira o nariz de palhaço e começa a remover a maquiagem. Estava feliz. O entusiasmo do público compensava as tristezas, a solidão, as dívidas acumuladas, a incerteza do futuro... “Tudo vale a pena!”, disse para si mesmo, enquanto uma lágrima escorre pelo seu rosto...

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil, desde  1996.

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