terça-feira, 30 de outubro de 2012

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CONGÊNITA

CONGÊNITA
®Lílian Maial
 
 

Nasci com asas na cabeça,
bicho estranho,
de língua solta,
de língua quente,
de lírios.
Meu voo é preso,
feito balão de gás
na mão de criança marrenta.

Nasci louca de pedra,
secular e sequiosa,
senhora da chuva,
de fazer brotar  rios.
As águas todas me jorram
e invadem,
porejo a dor e o cio,
nascentes nos olhos.
 
Nasci com os pés fincados na terra,
os braços raízes,
sustento do mundo,
irmã das sequoias.
Meu corpo é caule e poda.

Nasci com um fogo danado nas ancas,
um sol em cada lado,
fazendo verão pela pele,
incêndio na mata,
na gruta de águas em ebulição.

Então, qualquer que seja o meu destino,
convivo com tudo o que existe,
o que move e o que sonha,
e não posso mudar esse jeito
de não ter hora para ser eu.


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1 Comentário

regina ragazzi

Que máximo teu poema!!! Visceral!!!