sábado, 13 de outubro de 2012

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Deposto sobre o abismo - 3


...Então, naquela manhã, acordei e olhei o espelho. E vi uma cara amassada de ter ficado muito tempo na mesma posição sobre as dobras do lençol. A pele estava vincada e os vincos eram vermelhos. E faziam um contraste terrível com a minha brancura. Algo mórbido, como se eu tivesse sido retalhada e agora guardasse fundas cicatrizes...
...Mas não era nem retalho nem cicatriz. Era o amassado das dobras do lençol sobre a minha pele branca demais. E a minha cara era meio desconhecida...
...Tinha um quarto de paredes amarelas em redor. Tinha uma mesa em frente à janela, com um espelho emoldurado de madeira por cima, pequeno demais pra eu reconhecer qualquer coisa nele, até o meu rosto. Aquele quarto era pequeno demais pra eu reconhecer qualquer coisa nele...
...E entrava um sol forte pela janela. Devia ser tarde. Olhei o relógio, mas não vi nada. Então lembrei que tinha uns óculos sobre a mesa, lentes grossas e armação pesada. Peguei, apoiei sobre o nariz, encaixei atrás das orelhas, como se fosse alguma coisa importante assim pra ser descrita minuciosamente. Olhei pra minha cara amassada no espelho...
...E vi que...

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