Antes
do amanhecer acordei. Estava escuro como breu. Dizem que a hora mais escura é
essa. Alguns minutos antes da aurora. Parecia estar tudo calmo.
Mas,
eu não acordaria se alguma coisa diferente não estivesse acontecendo dentro de
casa. Meus sentidos me avisam sempre que algo não vai bem.
Levantei-me
e abri a porta do quarto lentamente, cheguei até a escada que leva ao térreo e
fiquei na escuta sem fazer nenhum barulho. Minha presença ali era
fantasmagórica. De camisola branca no escuro, silenciosa como as sombras do
amanhecer.
De
repente ouvi um leve som de passos no piso da sala que ficava logo abaixo da
escada. Parei de respirar. Neste
instante passou pelo pé da escada um vulto escuro e dirigiu–se para os fundos,
em direção à cozinha. Voltei para o quarto silenciosamente, fechei a porta e
liguei para a emergência policial dando o endereço e resumindo em sussurros os
acontecimentos.
Como
havia um posto policial próximo a minha casa, em poucos minutos chegaram os
soldados. Dois deles postaram–se em alerta, e outros dois bateram à porta.
Desci correndo as escadas e fui atendê-los. Quando abri a porta ouvi o som de
alguém rindo às minhas costas. O riso era familiar. E cá entre nós, eu amava
aquele jeito brejeiro de rir.
–
Meu Deus! Fábio! Que faz a essa hora andando às escuras pela casa? – falei
ainda assustada.
–
Apenas não quis acordá–la querida. Cheguei de viagem a pouco, porque o vôo
atrasou. Espero que os senhores
policiais não levem em consideração esse incômodo causado por minha esposa.
Peço desculpas, e agradeço o pronto atendimento.
Dizendo
isso meu esposo foi dispensando os homens da Lei. Fechou a porta e caiu na
gargalhada. Fiquei furiosa! Afinal o que custava ele ter ido até o quarto e
dizer que havia chegado? Mas seu abraço foi conciliador, e a saudade foi maior
que minha indignação.
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