sexta-feira, 26 de outubro de 2012

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Enganos da Vida - Capítulo I


Antes do amanhecer acordei. Estava escuro como breu. Dizem que a hora mais escura é essa. Alguns minutos antes da aurora. Parecia estar tudo calmo.
Mas, eu não acordaria se alguma coisa diferente não estivesse acontecendo dentro de casa. Meus sentidos me avisam sempre que algo não vai bem.
Levantei-me e abri a porta do quarto lentamente, cheguei até a escada que leva ao térreo e fiquei na escuta sem fazer nenhum barulho. Minha presença ali era fantasmagórica. De camisola branca no escuro, silenciosa como as sombras do amanhecer.
De repente ouvi um leve som de passos no piso da sala que ficava logo abaixo da escada. Parei de respirar.  Neste instante passou pelo pé da escada um vulto escuro e dirigiu–se para os fundos, em direção à cozinha. Voltei para o quarto silenciosamente, fechei a porta e liguei para a emergência policial dando o endereço e resumindo em sussurros os acontecimentos.
Como havia um posto policial próximo a minha casa, em poucos minutos chegaram os soldados. Dois deles postaram–se em alerta, e outros dois bateram à porta. Desci correndo as escadas e fui atendê-los. Quando abri a porta ouvi o som de alguém rindo às minhas costas. O riso era familiar. E cá entre nós, eu amava aquele jeito brejeiro de rir.
– Meu Deus! Fábio! Que faz a essa hora andando às escuras pela casa? – falei ainda assustada.
– Apenas não quis acordá–la querida. Cheguei de viagem a pouco, porque o vôo atrasou.  Espero que os senhores policiais não levem em consideração esse incômodo causado por minha esposa. Peço desculpas, e agradeço o pronto atendimento.
Dizendo isso meu esposo foi dispensando os homens da Lei. Fechou a porta e caiu na gargalhada. Fiquei furiosa! Afinal o que custava ele ter ido até o quarto e dizer que havia chegado? Mas seu abraço foi conciliador, e a saudade foi maior que minha indignação.

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