LUNA
5.
Mona tinha um pequeno terraço de
laje branca, estrangulado em um parapeito de paredes caiadas, debruçado para um
jardim de pássaros discretos e flores graciosas. Ali, esquecia-se de qualquer
brevidade, matutando do infinito, aspirando ruídos alegres e fugitivos do
cotidiano. Era um assento de presenças e distancia aonde podia decidir-se, na
agradável brisa, ao isolamento dos livros e dos sonhos, ou a buscar, quando
algumas frases ou alegrias a decidiam, a companhia de outras pessoas.
Era feito esse seu pequeno espaço de forma a nunca aborrecê-la ou entristecê-la,
era um fio de neve colorido e brando a sua janela para o mundo. Nem largo ou
estreito demais, fornecia ainda a brisa amiga da noite e duas ou três estrelas
para a viagem do sono.
Naquela tarde Mona percebeu as primeiras securas nos estreitos vértices dos amados
caminhos. Ainda eram os mesmos risonhos riscos nas fadas do jardim. Continuava
a poder reconhecer a vida dos insetos e
aves que por ali passavam, as pequenas miudezas que alteravam a curva de uma
árvore, a dança das plantas e as homenagens das flores. Mas, o encanto, o
mistério sofriam seus primeiros arranhões, como se uma pequena, quase inaudível
nota destoasse em uma sinfonia prazerosa.
A moça soltou um profundo suspiro ainda na perita apresentação da tarde.
Distraiu-se do meio que sempre a embalara como um ventre generoso e sutil e,
arquivou-se em si. Surpreendia-se dos membros, da pele, apalpava os cabelos.
Correu-se a olhar-se no espelho – sabia-se bonita – e algum pulso de seu olhar
dissolveu tantos anos de fantasias e amenidades. Um despertar muito longo,
ditado de eras e entidades que não concebia, uma curva de cinismo na covinha, e
o mundo curvou-se – talvez por poucos segundos – em uma revelação
transformadora.
Não era só essa, levitada, flutuando
na linha e no longitude das santas árvores. Talvez, ditado no topo das mesmas, houvesse um outro coro, abstrato, matriz e fundido
em um núcleo e em um cosmo vigoroso, amante dos frutos da terra. Aceitou-o como
um pai ou um mestre ou um bruxo ou um ímpio, mas queria vê-lo ainda, nesse
lento e aspirado jardim, amenizado na cálida e profusa vida dos homens,
distanciado no sonho, amigo, compartilhado e comedido. Em si e afastado, como
sempre fora.
Era preciso empreender alguma forma de viagem que não temia, mas que
tampouco compreendia. Acima, abaixo, mais
alta ou mais densa, em forma ou em mente? Voltaria, só em corpo? Em alma?
Com essa mesma? Talvez, como faziam quase
todos, fosse melhor deter-se na jóia de si mesma, porém – e não saberia
precisar quando a outra ponta do sonho se revelara - o encanto , o ruído da copa das longas
árvores, o suor da noite vertendo uma madrugada de presenças e ciências, enfim
tudo o que não se traduz à mente e aos sentidos no momento presente, já se insinuara.
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