quarta-feira, 3 de outubro de 2012

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O CARRO DO SOL - LUNA 1 - JANDIRA ZANCHI





O CARRO DO SOL  
LUNA 
 1.

       A noite caia. As primeiras estrelas conheciam o céu e a meia lua levantava sua calda amarela. Envolvida com o bom humor da tarde na suavidade das longilíneas árvores, Mona estendia seu passeio. Sentia dificuldade em encontrar a trilha do Mosteiro. Era raro, naqueles bosques, o anunciar de uma noite aberta, clara, esquecida de brumas e orações. O horizonte parecia desvendar-se para além das copas, alegre por servir o coro e acompanhar a moça.
     Aquele era um meio de serenos, de bons ouvintes, de capuzes e frestas armadas nas longas catedrais. Homens e mulheres viviam de si o mais tênue, creditando às árvores de comprido feitio um princípio seguro de abstração e adequação. Eram enfiados em meditações e ângulos nas suas celas ou nas cabanas, nos oratórios ou nas lavouras.  A neblina, que se iniciava nas madrugadas e rompia o amanhecer, era quase que o trato da alma comum com um desejo sinuoso e magro de abstração, de redenção. Era ali o cálice do pensamento. Abstinha-se da exuberância para buscar uma clarividência de pastor. Um reino feito para monges e dedicados.
     Mona podia, sem muito esforço, ouvir o vaivém de crianças e lenhadores da comunidade da parte baixa.  Mesmo sabendo que ia em direção errada, não queria tomar outro caminho. Esta noite parecia mais nua, bem mais simples, tão menina quanto ela mesma, e mais que tudo, alegre, curiosa, perfumada.
     Queria penetra-la, descobrir de que ventos se fizera. Enquanto percebeu alguma luz deixou-se levar. A lua – e devia ser dela esse estremecimento de noite namorada – aparecia cada vez mais larga, amarela, confiante.
     Foi se aproximando de uma cabana aonde costumava ir sozinha ou na companhia de amigos.
- Posso passar a noite ali, não terei medo.

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