A majestosa porta de ferro se abre e a
antessala se apresenta impecavelmente preparada para o recital de poesias. Uma
mesa de centro redonda, com toalha de veludo cor de vinho, uma mandala formada
por cristais e dois castiçais com velas recepcionava os visitantes e dava o tom
retrô ao evento.
O convite indicava que o momento exigia
roupagem de época e alguns convidados levaram a sugestão à risca. Afinal, a
ideia era proporcionar uma viagem no tempo aos participantes...
Pessoalmente, decidi usar uma saia longa,
uma blusa com botões e tirar do fundo da caixa aqueles colares de pérolas
falsas, até então abandonados, que de repente ganharam vida. Para completar, um
sapato scarpin bordado, comprado em uma providencial liquidação e utilizado
pouquíssimas vezes, e uma bolsinha de mão, dessas que salvam qualquer modelito,
quando aparece uma festa de última hora...
Pronto! Agora é só recitar os poemas dos
dois escritores que escolhi, com uma linguagem atemporal, e aquele poeminha
modesto, sem grandes pretensões, que escrevi em cima de reminiscências à
beira-mar, criado por mim... Pretendo utilizar alguns recursos do teatro amador
e emprestar emoção à recitação e, mais importante, fazer de tudo para não
gaguejar na hora, ou errar o texto...
A organizadora toca a sineta e dá as
instruções para o ritual. Um a um, os escritores locais vão timidamente
recitando as poesias de sua escolha. Aos poucos eles vão se soltando, se
deixando tomar pela emoção das palavras impressas, entrando no clima dos poetas
e de suas obras.
Inicialmente, o sarau estava restrito aos
escritores convidados, que se revezavam no toque da sineta e na leitura das
poesias. Depois o público começou a chegar, lentamente e com certa desconfiança,
mas foi ficando. Até os skatistas que se divertiam com manobras no entorno do
prédio resolveram “conferir o que tava pegando”, atraídos pelo som produzido
pelo violonista.
O clima de magia tomou conta do lugar e o
tempo passava sem que se percebesse. Em determinado momento do encontro lírico
das letras, quando o sol estava se pondo, o trem passou apitando bem perto e
todos ficaram surpreendidos e encantados ao mesmo tempo. Era um sinal de confirmação:
estava acabando mais uma etapa dos “Saraus de Poesias nos Trilhos do Trem”.
Todos foram embora levando no peito uma pontinha de saudade...
Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada em Jaraguá do Sul (SC) Brasil desde 1996.
2 comentários
Sonia,
Gostei Muito de Sua Crônica Poética!
"Em determinado momento do encontro lírico das letras, quando o sol estava se pondo, o trem passou apitando bem perto e todos ficaram surpreendidos e encantados ao mesmo tempo."
Um Beijo! Jorge
Obrigada, Jorge Xerxes! E que privilégio o meu de ter contato com os teus poemas e os de Jorge Vicente para a minha recitação "Dois Jorges Poetando"! Beijos, Sônia
Postar um comentário