quinta-feira, 25 de outubro de 2012

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Pequenas histórias 26

 
 
 
 
 
 
 
                                                    Sagitta 5

Sossegado adormeceu. E sonhou. Sonhou calmo, suave, terno, perigoso, angustiado. Flanava no meio da constelação, esbarrava nas estrelas, empurrava uma para lá, outra para cá. O silencio aterrador comandava os gestos. Tinha conseguido. Quando menos esperava conseguira. Era sempre assim. Conseguira. Sim, estava fazendo sua primeira viagem astral. Ou não estava? E o que era aquilo? Sonho? Muito real. De onde estava via seu corpo estendido na cama do quarto. Não só o seu corpo como tudo o que queria ver. Poderia ver sua vida, desde ao nascer até agora. Ver todos os instantes da sua vida, seus erros, seus pecados, tudo. Sim, poderia. Mas, não era isso o que queria. Ainda não estava à beira da morte. E para que relembrar o que já foi? Queria apenas flanar por entre as tênues nuvens dos amigos, amantes, parentes, e se pudesse, dizer-lhes:
- Olhe! Sei que não fui o que vocês imaginavam, sei muitas coisas erradas fiz, mas fiz com a intenção de conseguir a felicidade e, alcançando a felicidade conseguiria fazer vocês felizes. Se não consegui, me perdoem.
Era o que queria dizer. No entanto sua voz soava muda, não alcançava o destino, não propagava no espaço. Gritava:
- Amo todos vocês.
Ninguém ouvia seu grito. Não tinha como saber se ouviu ou não, portanto se angustiava. Nisso percebeu algo esquisito. Percebeu, não tinha como sentir, era apenas um tênue flamejar de vida. Ouviu no silêncio do ouvido um passar relâmpago incandescente. Olhou em volta e nada viu. Soou ao longe um tropel de passos em desabalada corrida. De repente estava rodeado de ciclopes que corriam apavorados. Por que corriam? Com medo do que? Não teve tempo em assimilar a resposta. Passou por ele uma enorme flecha em fogo que atingiu um ciclope perto dele. O coitado caiu inerte no chão.Nesse momento percebeu, era um ciclope, tinha que correr.


pastorelli

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