Finalmente terei duas horas de sono. Chego ao apartamento às 4h da manhã. Fico pensando nisso: em peitos e bundas de silicone. Pensando bem, não é tão mau assim. A propósito, nunca soube a razão de serem tão pontiagudas, certamente no futuro entenderão muito mais de cirurgia plástica que nos dias de hoje, dessa nossa época recheada de peitos e bundas de silicone. Queria ser o capitão Spock, nem me importaria com aquelas orelhas bizarras. Que merda viver no Brasil nesse início de terceiro milênio.
“Se
navegar pelos oceanos foi um desafio espetacular, voar pelo universo é aventura
ainda mais hercúlea. A Terra está a anos-luz de distância de outros sistemas
estelares e uma regra fundamental da física nos limita: nada é mais rápido que
a luz. Mesmo se alcançássemos essa velocidade, a jornada para estrelas vizinhas
levaria no mínimo quatro anos. Cientistas da Nasa apostam que a solução não
está em tentar ser veloz, mas em dobrar o espaço-tempo para aproximar corpos
celestes e impulsionar espaçonaves em direção a eles. Viagens de anos-luz
demorariam meses. Essa possibilidade ainda é restrita à ficção científica, mas
começa a tomar contornos reais em laboratórios. Disse a VEJA o engenheiro
espacial Harold White, chefe do departamento da Nasa encarregado de testar
possibilidades para levar o homem a partes longínquas do universo: ‘Distorcer o
espaço é algo que a natureza faz desde o Big Bang. Resta saber se conseguimos
reproduzir esse efeito’. Os cálculos de Harold White e sua equipe redefiniram a
conta. Pela nova equação, produzir essa distorção é plausível, e ela pode ser
simulada. O termo warp drive (dobra espacial) surgiu na ficção, em Jornada nas
Estrelas, e nomeou a teoria do físico mexicano Miguel Alcubierre, em 1994. Pelo
modelo, uma fonte energética produz uma bolha ao redor da espaçonave. A bolha
expande o espaço na traseira, enquanto o contrai na frente, impulsionando a
nave. Essa é a tal dobra. É como se a nave fosse um surfista em cima de uma
onda (a dobra) que o leva pelo mar (o universo). Para a tripulação, a nave
pareceria imóvel. Em relação à Terra, a velocidade superaria a da luz. Sistemas
estelares seriam alcançados em poucos meses. Alcubierre apostava que para criar
uma dobra seria necessária uma energia equivalente à da massa de Júpiter.
Novamente, uma impossibilidade. Harold White, da Nasa, recalculou. Em sua
equação, afinou a bolha no entorno de uma nave esférica de 10 metros de
diâmetro. Por consequência, diminuiu a dimensão da fonte energética para 750
quilos.”
Fico
matutando sobre aquilo que li na revista VEJA da semana passada. Acomodado na
poltrona de número 30 tento, em vão, pegar no sono. 19h50, o ônibus para
Niterói prestes a partir, corro para a plataforma de número 02. Permito-me
esboçar um sorriso. “São Paulo / cidade batuta / toda esquina / um viado, uma
janela, uma puta”. Obra feita, senti até um certo alívio, e pude apreciar uma
dessas pérolas literárias que só habitam os banheiros públicos, faço questão de
reproduzi-la aqui: Que merda, pensei, mas ela ainda estava por vir. Ledo
engano, banheiro gratuito, os bêbados e descuidados podiam mijar de graça e a
vontade nos assentos das privadas, e não deixavam por menos. Corri para o
banheiro, torcia para que fosse como aquele do Rio, que é pago, pelo menos
seria mais limpo (ou menos sujo). Tive uma vontade súbita e intensa de ir ao
banheiro, era o que meus filhos costumam denominar de “o número dois”, em bom
português: precisava cagar, e era urgente. Nenhum dos três falava, eram
surdos-mudos, comunicavam-se freneticamente com sinais, mas percebi que
aquiesciam à minha presença, então pude comer em paz (e silêncio) em meio à
multidão. Posso me sentar nessa cadeira? Não, está ocupada. Posso me sentar
nessa cadeira? Foi só quando peguei o meu Bob’s picanha com fritas e Coca-Cola
500ml que me dei conta que as mesas também. Àquela hora estava faminto e as
filas do Bob’s, abarrotadas de gente. Então vai essa mesmo. Não. Você tem outra
opção, respondi com ar irônico. Pode ser essa poltrona, ela me perguntou. A
atendente me mostrou o mapa de poltronas ocupadas do ônibus das 20h para
Niterói: todas as poltronas exceto aquela de número 30! Segui resignado até o
guichê. Chegando à plataforma de número 04, o ônibus para Niterói das 18h40
acabara de partir. Corri com a mala nas costas, esbarrando nas pessoas, subi os
lances de escada porque as rolantes estavam lotadas, atravessei a rodoviária
arremessando outros corpos para o lado, abrindo o meu caminho, desci os lances
de escada (porque as rolantes estavam lotadas). Desci do ônibus na rodoviária
de São Paulo às 16h35 no saguão das plataformas de 51 até 100, mas precisava
tomar ônibus na plataforma 04 do saguão diametralmente oposto, aquele das
plataformas de 01 até 50. Você chegará em São Paulo próximo do horário de
partida do ônibus para Niterói, mas tem boas chances de tudo dar certo, caso
você o perca, poderá trocar a passagem no guichê, informara-me a vendedora das
passagens em Campinas. Optei em seguir para São Paulo no ônibus das 16h55 e
tomar outro ônibus, às 18h40 de São Paulo para Niterói. O próximo ônibus
disponível de Campinas para o Rio de Janeiro sairia às 23h45. A passagem de
circular me custou apenas três reais, mas levei quase uma hora do aeroporto até
a rodoviária. A empresa reembolsou somente a passagem, sequer conseguiu transporte
para a rodoviária de Campinas. Preciso estar no trabalho amanhã cedo! Mas como
assim? A pista estava interditada, nenhum avião podia pousar ou decolar do
aeroporto, o próximo vôo disponível para o Rio de Janeiro apenas na
quarta-feira. Só então eu soube do incidente da noite anterior. Saltei no
aeroporto de Viracopos às 14h55 e segui direto para o saguão de embarque do
aeroporto. Abraçamos-nos, ela me beijou e seguiu para a casa da mãe. Chegarei
às 16h30 e poderei aproveitar o fim de tarde para um passeio pela Cidade
Maravilhosa, pensei com os meus botões. Eu esbocei um sorriso e meneei a cabeça
confirmando. Você conseguiu um bom horário nesse fim de semana, ela me disse.
Estrada ensolarada, o clima ameno de primavera, o verde da mata, ao som da Imprensa
FM 101.5 MHz de Vargem Grande do Sul. Depois viajaríamos de carro de Porto
Ferreira para Campinas, em uma hora e quarenta e cinco minutos estaríamos em
Viracopos, e de lá ela seguiria para visitar os seus pais. Um almoço breve mas
agradável, com direito ao expresso para a boa digestão. Eu e ela seguimos para
o restaurante, ainda em Porto Ferreira. Fiz o meu “check in” por volta do
meio-dia de domingo, pela internet, para o vôo das 15h30.
“O
aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (95 km de São Paulo),
amanheceu fechado para pousos e decolagens e sem previsão de reabertura, de
acordo com a Infraero. O fechamento do aeroporto prejudica 15 mil passageiros. A
única pista do aeroporto está interditada desde a noite de sábado (13), depois
do incidente com o avião da Centurion Cargo. De acordo com o diretor-geral da
Centurion, Vanderlei Morelli, o cargueiro MD11, que vinha de Miami, pousou às
19h55 em Viracopos, quando apresentou problemas no trem de pouso. ‘Ele (o trem
de pouso) travou. O avião percorreu toda a pista e está parado no final dela.
Estamos trabalhando para liberá-la ainda esta noite’, afirmou. Morelli disse
que ninguém ficou ferido. O impacto do pouso forçado da aeronave provocou uma
ranhura superficial ao longo da pista.”
A
previsão do tempo me diz que vamos ter sol durante todo o fim de semana aqui em
Miami, já está quase na hora de largarmos, vamos deixar essa bucha para os
mecânicos brasileiros resolverem, responde o supervisor. Os sistemas estão
acusando quinze por cento de probabilidade de falha na abertura do trem de
pouso principal da asa esquerda, disse o mecânico de vôo.
1 Comentário
Meu amigo Jorge, um dia de cão transformado em bela crônica,forte abraço.
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