segunda-feira, 15 de outubro de 2012

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Viagem do corvo

Finalmente terei duas horas de sono. Chego ao apartamento às 4h da manhã. Fico pensando nisso: em peitos e bundas de silicone. Pensando bem, não é tão mau assim. A propósito, nunca soube a razão de serem tão pontiagudas, certamente no futuro entenderão muito mais de cirurgia plástica que nos dias de hoje, dessa nossa época recheada de peitos e bundas de silicone. Queria ser o capitão Spock, nem me importaria com aquelas orelhas bizarras. Que merda viver no Brasil nesse início de terceiro milênio.

“Se navegar pelos oceanos foi um desafio espetacular, voar pelo universo é aventura ainda mais hercúlea. A Terra está a anos-luz de distância de outros sistemas estelares e uma regra fundamental da física nos limita: nada é mais rápido que a luz. Mesmo se alcançássemos essa velocidade, a jornada para estrelas vizinhas levaria no mínimo quatro anos. Cientistas da Nasa apostam que a solução não está em tentar ser veloz, mas em dobrar o espaço-tempo para aproximar corpos celestes e impulsionar espaçonaves em direção a eles. Viagens de anos-luz demorariam meses. Essa possibilidade ainda é restrita à ficção científica, mas começa a tomar contornos reais em laboratórios. Disse a VEJA o engenheiro espacial Harold White, chefe do departamento da Nasa encarregado de testar possibilidades para levar o homem a partes longínquas do universo: ‘Distorcer o espaço é algo que a natureza faz desde o Big Bang. Resta saber se conseguimos reproduzir esse efeito’. Os cálculos de Harold White e sua equipe redefiniram a conta. Pela nova equação, produzir essa distorção é plausível, e ela pode ser simulada. O termo warp drive (dobra espacial) surgiu na ficção, em Jornada nas Estrelas, e nomeou a teoria do físico mexicano Miguel Alcubierre, em 1994. Pelo modelo, uma fonte energética produz uma bolha ao redor da espaçonave. A bolha expande o espaço na traseira, enquanto o contrai na frente, impulsionando a nave. Essa é a tal dobra. É como se a nave fosse um surfista em cima de uma onda (a dobra) que o leva pelo mar (o universo). Para a tripulação, a nave pareceria imóvel. Em relação à Terra, a velocidade superaria a da luz. Sistemas estelares seriam alcançados em poucos meses. Alcubierre apostava que para criar uma dobra seria necessária uma energia equivalente à da massa de Júpiter. Novamente, uma impossibilidade. Harold White, da Nasa, recalculou. Em sua equação, afinou a bolha no entorno de uma nave esférica de 10 metros de diâmetro. Por consequência, diminuiu a dimensão da fonte energética para 750 quilos.”

Fico matutando sobre aquilo que li na revista VEJA da semana passada. Acomodado na poltrona de número 30 tento, em vão, pegar no sono. 19h50, o ônibus para Niterói prestes a partir, corro para a plataforma de número 02. Permito-me esboçar um sorriso. “São Paulo / cidade batuta / toda esquina / um viado, uma janela, uma puta”. Obra feita, senti até um certo alívio, e pude apreciar uma dessas pérolas literárias que só habitam os banheiros públicos, faço questão de reproduzi-la aqui: Que merda, pensei, mas ela ainda estava por vir. Ledo engano, banheiro gratuito, os bêbados e descuidados podiam mijar de graça e a vontade nos assentos das privadas, e não deixavam por menos. Corri para o banheiro, torcia para que fosse como aquele do Rio, que é pago, pelo menos seria mais limpo (ou menos sujo). Tive uma vontade súbita e intensa de ir ao banheiro, era o que meus filhos costumam denominar de “o número dois”, em bom português: precisava cagar, e era urgente. Nenhum dos três falava, eram surdos-mudos, comunicavam-se freneticamente com sinais, mas percebi que aquiesciam à minha presença, então pude comer em paz (e silêncio) em meio à multidão. Posso me sentar nessa cadeira? Não, está ocupada. Posso me sentar nessa cadeira? Foi só quando peguei o meu Bob’s picanha com fritas e Coca-Cola 500ml que me dei conta que as mesas também. Àquela hora estava faminto e as filas do Bob’s, abarrotadas de gente. Então vai essa mesmo. Não. Você tem outra opção, respondi com ar irônico. Pode ser essa poltrona, ela me perguntou. A atendente me mostrou o mapa de poltronas ocupadas do ônibus das 20h para Niterói: todas as poltronas exceto aquela de número 30! Segui resignado até o guichê. Chegando à plataforma de número 04, o ônibus para Niterói das 18h40 acabara de partir. Corri com a mala nas costas, esbarrando nas pessoas, subi os lances de escada porque as rolantes estavam lotadas, atravessei a rodoviária arremessando outros corpos para o lado, abrindo o meu caminho, desci os lances de escada (porque as rolantes estavam lotadas). Desci do ônibus na rodoviária de São Paulo às 16h35 no saguão das plataformas de 51 até 100, mas precisava tomar ônibus na plataforma 04 do saguão diametralmente oposto, aquele das plataformas de 01 até 50. Você chegará em São Paulo próximo do horário de partida do ônibus para Niterói, mas tem boas chances de tudo dar certo, caso você o perca, poderá trocar a passagem no guichê, informara-me a vendedora das passagens em Campinas. Optei em seguir para São Paulo no ônibus das 16h55 e tomar outro ônibus, às 18h40 de São Paulo para Niterói. O próximo ônibus disponível de Campinas para o Rio de Janeiro sairia às 23h45. A passagem de circular me custou apenas três reais, mas levei quase uma hora do aeroporto até a rodoviária. A empresa reembolsou somente a passagem, sequer conseguiu transporte para a rodoviária de Campinas. Preciso estar no trabalho amanhã cedo! Mas como assim? A pista estava interditada, nenhum avião podia pousar ou decolar do aeroporto, o próximo vôo disponível para o Rio de Janeiro apenas na quarta-feira. Só então eu soube do incidente da noite anterior. Saltei no aeroporto de Viracopos às 14h55 e segui direto para o saguão de embarque do aeroporto. Abraçamos-nos, ela me beijou e seguiu para a casa da mãe. Chegarei às 16h30 e poderei aproveitar o fim de tarde para um passeio pela Cidade Maravilhosa, pensei com os meus botões. Eu esbocei um sorriso e meneei a cabeça confirmando. Você conseguiu um bom horário nesse fim de semana, ela me disse. Estrada ensolarada, o clima ameno de primavera, o verde da mata, ao som da Imprensa FM 101.5 MHz de Vargem Grande do Sul. Depois viajaríamos de carro de Porto Ferreira para Campinas, em uma hora e quarenta e cinco minutos estaríamos em Viracopos, e de lá ela seguiria para visitar os seus pais. Um almoço breve mas agradável, com direito ao expresso para a boa digestão. Eu e ela seguimos para o restaurante, ainda em Porto Ferreira. Fiz o meu “check in” por volta do meio-dia de domingo, pela internet, para o vôo das 15h30.

“O aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (95 km de São Paulo), amanheceu fechado para pousos e decolagens e sem previsão de reabertura, de acordo com a Infraero. O fechamento do aeroporto prejudica 15 mil passageiros. A única pista do aeroporto está interditada desde a noite de sábado (13), depois do incidente com o avião da Centurion Cargo. De acordo com o diretor-geral da Centurion, Vanderlei Morelli, o cargueiro MD11, que vinha de Miami, pousou às 19h55 em Viracopos, quando apresentou problemas no trem de pouso. ‘Ele (o trem de pouso) travou. O avião percorreu toda a pista e está parado no final dela. Estamos trabalhando para liberá-la ainda esta noite’, afirmou. Morelli disse que ninguém ficou ferido. O impacto do pouso forçado da aeronave provocou uma ranhura superficial ao longo da pista.”

A previsão do tempo me diz que vamos ter sol durante todo o fim de semana aqui em Miami, já está quase na hora de largarmos, vamos deixar essa bucha para os mecânicos brasileiros resolverem, responde o supervisor. Os sistemas estão acusando quinze por cento de probabilidade de falha na abertura do trem de pouso principal da asa esquerda, disse o mecânico de vôo.



1 Comentário

andre albuquerque

Meu amigo Jorge, um dia de cão transformado em bela crônica,forte abraço.