De repente, na rua da grande cidade,
fez-se o silêncio. O vento parou de polinizar ruídos. As árvores do passeio convenceram-se da
própria imobilidade. Então, sem aviso, veio a luz.
A luz que vinha no azul do céu de
novembro penetrou nos corpos inertes na contemplação. Iluminou as almas das
pessoas. Pontos de sombra foram varridos sem dificuldade, pois nenhum desvão
deixou de ser percorrido pela força luminosa.
No entanto, um homem resistiu.
Guardou, no âmago, o último segredo. Aquele segredo impenetrável, que depositara no túmulo de sua mente mesmo antes da morte. O segredo oculto nas
dobras cerebrais da existência mais miserável. Oculto a cada insistente batida de
seu coração. Oculto a cada exalação pulmonar; mais um suspiro profundo que
qualquer outra coisa.
Ao fim daquele evento inesperado, todos
estavam estranhamente limpos, anódinos, arrebanhados pela luz intensa. A
sensação era de paz. Menos para aquele homem derradeiro, que apenas se perguntava se era o único liberto ou o último escravo.
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