quinta-feira, 8 de novembro de 2012

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o derradeiro homem


De repente, na rua da grande cidade, fez-se o silêncio. O vento parou de polinizar ruídos.  As árvores do passeio convenceram-se da própria imobilidade. Então, sem aviso, veio a luz.
A luz que vinha no azul do céu de novembro penetrou nos corpos inertes na contemplação. Iluminou as almas das pessoas. Pontos de sombra foram varridos sem dificuldade, pois nenhum desvão deixou de ser percorrido pela força luminosa.
No entanto, um homem resistiu. Guardou, no âmago, o último segredo. Aquele segredo impenetrável, que depositara no túmulo de sua mente mesmo antes da morte. O segredo oculto nas dobras cerebrais da existência mais miserável. Oculto a cada insistente batida de seu coração. Oculto a cada exalação pulmonar; mais um suspiro profundo que qualquer outra coisa.
Ao fim daquele evento inesperado, todos estavam estranhamente limpos, anódinos, arrebanhados pela luz intensa. A sensação era de paz. Menos para aquele homem derradeiro, que apenas se perguntava se era o único liberto ou o último escravo.

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