quarta-feira, 19 de outubro de 2016

“QUEM NÃO LÊ, VÊ FIGURA”
por Tânia Du Bois



Nilto Maciel pergunta, “Por que não investir na leitura, na formação de leitores”?
Vivemos em constante fingimento, porque carregamos a escuridão interior ao não ler. A falta da leitura costura fios dispersos na ilusão de que o impossível pode se tornar visível. Segundo Domingos Pellegrini, “... A diferença entre olhar e ver é como passar de trem e passar a pé”.
A história é tecida pela imagem da cultura. Sempre temos livros para ler, mas nem sempre temos a oportunidade, a liberdade e o tempo. Escutamos palavras a pregar o tempo, onde os gritos cortam a nossa alma. Mas, o tempo é do tamanho da poeira, basta um sopro e nada fica, nem um dia por acaso. Santo Agostinho em suas confissões descreve, “O que é por conseguinte o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.
Questiono o leitor, por que ficar na agonia que o sufoca no livro fechado? Encontramos a resposta nas palavras em poemas; na memória do tempo, escondida; na luz da razão que nos cala em livros fechados, porque velamos diferentes significações num pensamento de lâmina por não ler tudo o que queremos, por correr atrás do tempo e do livro fechado. W.J.Solha alerta, “quem não lê, vê figura”. E, Pedro Du Bois, no Livro Fechado, retrata a relação do homem com o livro, “... Novo padrão do produto livro / livre de significados // e ditado/ impresso / acabado // em si mesmo”.
Mas, quem explica a falta da leitura como descaso e sofrimento? O doce sabor das amargas passagens na vida. Como tropeçar em palavras e não saber dizer o quanto são sensíveis os livros descritos com os sentidos, ou quanto vale o livro aberto em nossas vidas. Júlio Perez indaga, “... De quantas vestes / pode um homem se despir? / Até onde pode chegar / seu mais radical desnudamento?”
A leitura gera a diferença entre os homens e nos torna mais presentes, como se estivéssemos aguardando na esquina da curiosidade os mudos recados da paisagem; o olhar do sol e a vida se fazer espanto. Nas palavras de Pedro Du Bois, “Se não atentarmos à cultura que se desfaz em descobrimentos e invenções, somos breves, estéreis e áridos gestos de tardios arrependimentos”.
O prazer de saber ler é, antes de tudo, experiência única. A cada leitura recriamos e redescobrimos o poder das palavras, como expressa Jorge Luis Borges, “Que outros se gabem dos livros que escreveram, eu me orgulho dos que li”.

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