sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

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ENTREVISTA COM O POETA SÉRGIO ARAL


Sérgio Aral é paulistano, nasceu em 1968, ele é autor do livro de contos Até a esquina e meia-volta (VirtualBooks, 2010), também participou da coletânea de contos  Retalhos (Andross, 2007), o autor acaba de estrear na poesia com o livro Sobre Essa Esfera Suspensa (Penalux), este foi o mote deste papo.

Sérgio, há uma avalanche de autores precoces, alguns publicando com menos de 20 anos, comparado com muitos deles, podemos dizer que você estreou tardiamente, na literatura. Quais ilusões são/foram evitadas por ti em relação ao universo literário?

Acho bom ter sim ilusões em relação à literatura, mas manter os pés no chão é importante para poder enxergar com nitidez a realidade e evitar alguns desenganos. Cada um deve estabelecer seu objetivo. A proposta da Editora Penalux, com edição muito bem trabalhada e com tiragem adequada para o lançamento do livro e divulgação inicial, veio ao encontro daquilo que eu pretendia. Fiquei cinco anos sem escrever e, por isso, minha preocupação agora é colocar a literatura no bate-bate do meu dia a dia.

No primeiro contato com Sobre Essa Esfera Suspensa, um dos pontos que saltam aos olhos, são as epígrafes que usam versos de autores contemporâneos (Nathan Sousa, Valério Oliveira). Como a leitura dos poetas do nosso tempo potencializam a sua escrita?

Apesar da inegável qualidade literária com a qual esses autores nos presenteiam, o uso das epígrafes foi mesmo por uma questão de oportunidade. Estava lendo seus livros no período de criação ou revisão dos poemas. Se tivesse lendo Drummond, João Cabral ou Miguel Torga, talvez extraísse algo deles também.

Poesia mansa/ azul/ boa vizinhança/ cerveja gelada/ melhores amigos... por meio desses versos do poema Suposição, entre outros, podemos dizer que a poesia está à espreita, esperando para dar  o bote e florescer nas frestas do cotidiano?

Acho que sim. A maleabilidade da poesia não está só em sua forma. Na essência, ela também pode acariciar, espicaçar, surpreender. Sendo o cotidiano uma vertente torrencial para todas as possibilidades, como não aproveitar a chance para beber de sua fonte?
Nos poemas Diluído e Tudo há uma perfeita descrição daquilo que Clarice Lispector chamou de instante-já. A usurpação da noção de tempo é estética ou mística em sua poética?
Sinto-me feliz por essa alusão. Confesso que não tive essa preocupação na elaboração desses textos. Mas em Tudo (ou em quase todos) há mesmo uma inclinação mística.

As lacunas são retocadas/ com metodologia antiga. Sérgio, uma das características dos seus poemas é certo estilo lacônico. Como teve acesso a esta metodologia?

No início, meu propósito era escrever poemas de versos curtos, com duas ou três palavras, como por exemplo, se vê nos poemas Nadar no vazio e Magnética. Já tinha produzido vários poemas quando tive contato com o livro de Susanna Busato, Corpos em cena. Acho que este livro suscitou-me algo que contribuiu para continuar por esse caminho.

No poema Havia o tédio parece haver uma aproximação entre a criação do planeta e o fazer poético. Somente no tédio reside o poder de criação?

Ótima pergunta, que bem poderia ser um verso de abertura ou um desfecho de poema. Quando uma pessoa se sente entediada, há margem para reação porque o tédio é um quartinho de despejo, onde se deposita coisas que, naquele momento, não tem serventia. Se ao seu redor não existe nada que se possa aproveitar, você está num deserto. Eis o momento!

A divisão dos quatro capítulos do livro (Os ventos, Agulha vacilante, Rumos colaterais e Possível chegada), assim como alguns poemas, faz referência ao itinerário do humano dentro na Terra, conforme destacou na orelha Edmar Monteiro Filho, do nascimento à indiferença rumo à morte, a poesia é só uma distração no meio do caminho?

Já ouvi por aí que a poesia pode ser tudo: derrocada e libertação. Penso, então, que se tiver de ser apenas uma distração, que seja. Vejo pelo lado bom, pois alguém, de alguma forma, estará se envolvendo com a poesia. E lembrar do título do livro do Leminski, Distraídos venceremos, agrada ainda mais.
Existe possibilidade de fugir da ilusão que nos move a acreditar que tudo então será possível?

Acho que não, porque parece mais confortável ter uma saída de emergência sempre à vista, uma possibilidade de recomeço a cada frustração, do que não haver expectativa alguma.

Por que ler Sérgio Aral?


Apesar de conseguir despertar de um sono e retomar a aventura Sobre essa esfera suspensa, estou colhendo aos poucos os motivos para essa leitura. Certeza, pelo menos para mim, que a atenção dispensada pelo escritor Fernando Rocha já é um bom motivo.




Contato: sergioaral17@gmail.com

No facebook: /sergioaral.miranda






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