terça-feira, 23 de maio de 2017

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VOCÊ e EU



“... se você for retirada / do interior desta ostra / Que sou eu / Que seria eu? / Meu mundo quebrado / Não mais haverá / Razão para que eu viva / Pois a partir do dia em que conheci você / Meu mundo passou a ser seu...”
(Amir Carlos)

Entre você e eu se levanta um muro de saudades, e somente nós podemos nos dar ao “luxo” da renúncia quando nada dizemos. Dessa vez, a voz metálica diz adeus. Segundo Ricardo Valverde, “Você e eu //...você me apareceu / ...um sentimento nasceu / ...de repente você desapareceu / os meus telefonemas não atendeu / as minhas cartas não leu / e nem mais escreveu / porém aqui estou eu / de coração aberto esperando para continuarmos / aquilo que começamos / você e eu...”
Sua falta me alucina na bendita solidão que me funde na saudade. Folhas ao vento o chamam e eu me refugio nas lembranças e abraço a sua ausência. Pedro Du Bois revela, “ver o momento de dor / no olhar de quem perdeu / a hora de amar e passará a vida / procurando em cada gesto, / palavra e movimento...”
À noite, meu pensamento se cruza com pesadelos, que se aprofundam nas lembranças, como se fossem a alegria saudosa em perfeita desordem, igual a um livro de vento sem palavras e folhas sem asas, apenas o sentimento da sua ausência, como em Patrícia Hoffmann, “...vulto complexo, / no espelho da alma / o teu reflexo, / sempre ausente...”
Nos sonhos, venço o muro das lamentações e encontro dentro de mim a sua memória e assim não me envergonho do sentimento que nutro por você. Essa memória cobre a noite em desamor e eu invento razões para não esquecê-lo, porque vejo seu rosto em perdões e guardo segredo.
Seus braços permanecem fechados, fico angustiada e invento sua volta ao meu desvalido coração que sopra a saudade em eco, por onde me perco em sonhos na hora em que decifro o seu olhar; nas palavras de Lima Coelho, “...Extremas saudades! tristezas que não se acalma, / Resumo doce e amargo de um sofrimento, / que me faz meditar, a todo momento.”
Penso em nossos momentos e sinto seus beijos em meus lábios e o meu rosto marcado diz o quanto mais gostaria de lhe amar; então, insisto em ouvir a voz do coração: não seremos um do outro. Perco-me em palavras no eco escuro e as noites se tornam de insônias. Busco desvendar o segredo através do vento que me traz a triste verdade e decifra as lembranças do que foi o nosso amor; misteriosamente, renunciamos um ao outro: você e eu? O poeta Carlos Pessoa Rosa retrata, “... uma sensação de ausência presente, de algo ter carregado de nossas mãos, para se despedaçar no chão.”

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